Vidas Adaptadas ao Desporto
Quanto vale o sonho paralímpico?

“Precisamos de ser dos melhores do mundo para receber algum apoio"
Norberto desafia obstáculos na sua cadeira de rodas. Atravessa pontes e desloca-se sobre os passeios íngremes só para conseguir o melhor cenário para nos contar a sua história. A vitalidade e a agilidade com que se move parecem desmentir os seus 43 anos. Diz que já está a treinar para as provas que se avizinham.

Norberto Mourão é um dos rostos que vai representar Portugal nos Jogos Paralímpicos deste ano. Vestiu a camisola do Sporting CP durante seis anos, mas conta que representar um clube não é sinónimo de toda a ajuda que um atleta de alta competição necessita.
O atleta português é um dos poucos integrados no projeto paralímpico do nível mais alto (o medalhado) e, por isso, recebe uma bolsa do Comité Paralímpico. Além disso, é apoiado pela Federação do Desporto, pela área social da Betano e tem dois patrocínios a nível de material que lhe permitem competir. Os “apoios simbólicos” que hoje recebe, embora valiosos, não lhe garantem um futuro e ficam “aquém” daquilo que necessita “para ter uma vida tranquila”.
“O desporto apareceu na minha vida como uma fisioterapia.”
Se hoje recebe algum apoio, de 2011 a 2019, viu-se obrigado a pagar todas as despesas do seu próprio bolso, desde deslocações a equipamento desportivo. E muito se engana quem pensa que representar um clube de grande dimensão significa ter “tranquilidade financeira”. Ao longo do seu trajeto no Sporting Clube de Portugal, Norberto conta que apenas vestia a camisola. Hoje, representa o Kayak Clube Castores do Arade. Para além do símbolo que carrega ao peito, tem a sorte de receber um apoio anual do clube.
A maioria dos atletas paralímpicos em Portugal enfrenta uma realidade onde o apoio monetário é escasso e incerto, deixando-os confrontados com o desafio, não apenas de competir, mas também de sobreviver fora do campo de jogo.
Norberto Mourão, atleta do Kayak Clube Castores do Arade
Norberto Mourão, atleta do Kayak Clube Castores do Arade
Na corrida para o pódio
À medida que os jogos paralímpicos se aproximam, a corrida ao pódio intensifica-se e os atletas redobram os seus esforços em busca da excelência desportiva.
Para Norberto Mourão, representar Portugal já não é uma novidade e por isso confessa estar muito familiarizado com o ritmo. Com uma rotina rigorosa e treinos de alta intensidade, as águas são a sua companhia diária. Entrega-se aos treinos duas vezes por dia, percorrendo uma média de 70 a 80km por semana. Este compromisso é complementado com horas no ginásio, onde se dedica à mobilidade e à musculação para refinar a sua técnica.
Conta que a sua preparação para os jogos tem sido exigente mas também transformadora. Já perdeu mais de 7kg, resultado que o faz sentir “mais leve, mais rápido e melhor preparado”, confessa. Neste momento, procura apenas “desfrutar” e superar-se. No entanto, não esconde a vontade de subir ao pódio como campeão paralímpico, um título que escapou por centímetros na última prova em Tóquio.
Desde 2019, sem contar com todos os pódios alcançados em Taças do Mundo, o atleta que compete em VL2 200m já soma um total de sete medalhas nas principais provas internacionais.
“22 a 25 atletas a caminho de Paris”
Portugal espera levar “22 a 25 atletas, de oito modalidades, aos Jogos Paralímpicos Paris 2024, que se realizam de 28 de agosto a 8 de setembro. O número foi divulgado pelo presidente do Comité Paralímpico de Portugal (CPP), José Lourenço. Atualmente, a equipa lusa ainda só conseguiu garantir 15 vagas, em seis modalidades distintas. Há quatro anos, em Tóquio, competiram 33 atletas. O número de representantes portugueses tem diminuído de ano para ano.
Mas porque é que há falta de atletas?
Para Norberto Mourão a resposta é simples e direta: “Em Portugal, não se investe na formação de atletas”. Das 22 modalidades que os Jogos Paralímpicos abrangem, Portugal vai levar atletas para representar apenas oito dessas modalidades. Na maioria delas, o país não tem quem pratique.
Segundo o atleta de paracanoagem, “evoluíram muito mais os atletas estrangeiros, porque nos outros países existe uma real aposta no desporto adaptado”. Aliado a isso, explica que falta existir mais recrutamento de atletas e renovação dos mesmos. “Há países com menos população que nós que têm um maior número de atletas”, lamenta.
Este é o caso de Suécia, que tem cerca de 10,5 milhões de habitantes e de 530 medalhas paralímpicas. Já o país das Quinas, composto por 10,4 milhões, soma apenas 94 pódios.
O cenário na paracanoagem não é uma exceção face à realidade portuguesa. Norberto considera que a modalidade tem evoluído pouco porque os atletas se têm mantido praticamente os mesmos. “Não se têm renovado atletas e isso é também uma missão dos clubes desportivos”.
Do sonho à realidade: a Academia de boccia do SC Braga
“No mundo inteiro consigo contar pelos dedos quantos espaços semelhantes a este temos. Em Portugal isto não existe."
Em 2009, o Sporting Clube de Braga anunciou oficialmente a criação da sua secção de desporto adaptado. Em setembro de 2023, o clube minhoto inaugurou as novas instalações na cidade desportiva, que é a casa das modalidades, incluindo o boccia. É exatamente onde nos encontramos para conhecer o local onde diariamente uma vasta equipa se encontra para fazer aquilo que mais gosta.
Na entrada, respira-se desporto. Vão entrando jogadores das mais diversas modalidades, equipados a rigor, para mais um dia duro de trabalho. Sorriem e desejam-nos “bom dia”. Logo retomam a conversa. Vão descendo mais, aos poucos, pelo elevador.
Quem também chega é Luís Marta, coordenador da secção de Boccia do clube, que nos recebe e convida a entrar. Andamos a passos largos até encontrar a sala de treinos. Atualmente, o clube detém um conjunto de atletas de três equipas de competição para a participação em provas de âmbito regional e nacional. Pelo caminho, Luís não poupa nas palavras e diz, com orgulho, que o espaço é “o único em Portugal” a pensar nas necessidades do desporto adaptado. O sorriso é visível.
Chegamos à sala. Já lá se encontram alguns jogadores, treinadores e acompanhantes. Estão a preparar os equipamentos para dar início ao treino. À medida que vamos observando, percebemos que o Boccia envolve muito mais do que um simples lançamento de bola.
Eunice Raimundo é uma das atletas que já começou a treinar. A paralisia cerebral não lhe permite falar, tampouco fazer movimentos. Mas a atleta de 47 anos sabe perfeitamente como dominar a arte do desporto. Quem a acompanha é Amélia, que vai testando as bolas e obedecendo aos pedidos que Eunice, mesmo sem falar, lhe faz. Antes do SC Braga, saltava de pavilhão em pavilhão para conseguir treinar. Hoje tem a sorte de partilhar o espaço com dezenas de outros atletas, fruto do investimento que o clube bracarense tem feito.
“Sentimos que há cada vez mais atletas a percorrer 70 ou 80km só para virem aqui treinar juntamente com os colegas”. As palavras são de Luís Marta, que acompanha diariamente a equipa de Boccia. No entanto, lamenta a enorme dificuldade que o clube enfrenta em captar novas pessoas que acompanhem os atletas. “É muito difícil termos voluntários”, relata.
Embora confesse que o clube consiga suprir a maior parte dessas necessidades, “se cada atleta quiser dar um passo à frente, tem de encontrar formas de ajuda ao financiamento para comprarem o seu material”. Os próprios atletas têm feito um esforço enorme para conseguir adquirir patrocínios e, aos poucos, eles têm aumentado, segundo observa o coordenador.

Professor Luís Marta, responsável da secção de boccia do SC Braga
Professor Luís Marta, responsável da secção de boccia do SC Braga
Luís Marta a iniciar o treino da manhã de quarta-feira
Luís Marta a iniciar o treino da manhã de quarta-feira
Área de treino da arena do SC Braga
Área de treino da arena do SC Braga
Atletas do SC Braga no treino da manhã
Atletas do SC Braga no treino da manhã
Calhas dos atletas do SC Braga
Calhas dos atletas do SC Braga
Ambiente de treino de boccia do SC Braga
Ambiente de treino de boccia do SC Braga
Momento de descontração durante o treino
Momento de descontração durante o treino
Eunice Raimundo também teve de correr atrás dos seus próprios patrocínios durante longos anos. Hoje, embora continue a fomentar o seu gosto pelo boccia, admite que as competições paralímpicas já não são um objetivo. Focada agora noutras provas e em “ajudar os colegas”, continua a fazer parte da secção de boccia, que inaugurou em 2009, juntamente com mais três colegas, acompanhados por uma equipa de treinadores.
Um desses colegas era José Macedo. Nascido e criado em Braga, vestiu em grande parte do seu percurso profissional a camisola do Sporting Clube de Braga e competiu muitas vezes ao lado de Eunice. Em 2021, optou por abandonar o boccia ao fim de 30 anos de carreira. No entanto, continua a visitar muitas vezes a academia do clube para acompanhar a evolução dos colegas, oferecendo-lhes material.
À semelhança de Eunice, também José teve de procurar outros apoios além do clube. “O Braga deu o nome mas não patrocinava nada”, admite. Entre outros aspetos, o clube bracarense apoia os atletas cedendo o espaço para treino, assegurando transportes, deslocações e vestuário. Além disso, disponibiliza uma vasta equipa de especialistas, incluindo psicólogos e nutricionistas.
Hoje, apesar de já não competir, não esconde a felicidade por saber que a modalidade tem crescido e que o clube da sua cidade tem acompanhado essa evolução. “Agora têm boas condições”, acrescenta.
Contactamos o clube arsenalista para fornecer dados relativamente ao futuro, que mostrou interesse em continuar em expansão. “Desejamos crescer ainda mais porque sabemos que existem necessidades.” Para conseguir alcançar esta meta, mantêm parceria com a Associação Nacional de Desporto para a Paralisia Cerebral (PC-AND) e com a Câmara Municipal de Braga, entre outras entidades, que ajudam a apoiar os projetos do clube.

O que são os Jogos Paralímpicos?
Para participar em competições de desporto adaptado, os atletas são agrupados de acordo com o nível de limitação das diferentes deficiências, segundo o Comité Paralímpico Internacional. Para as diferentes modalidades podem participar atletas com deficiências motoras, com paralisia cerebral ou deficiência mental.
Ivo Quendera conhece de trás para a frente as regras dos Jogos Paralímpicos. Fora toda a formação académica que tem na área do desporto, já não consegue contar pelos dedos a quantidade de cargos que atualmente ocupa. Entre alguns deles, é treinador de Norberto Mourão, técnico nacional de paracanoagem e diretor técnico nacional da Federação Portuguesa de Desporto para Pessoas com Deficiência (FPDPD).
No meio da correria do dia a dia, conseguiu dispensar alguns minutos para nos explicar um pouco mais acerca do desporto adaptado. Ele que, em 2021, já tinha acompanhado Norberto Mourão a Tóquio, este ano volta a voar com o atleta português até Paris, na esperança de voltar a regressar com uma medalha.
O desporto adaptado surgiu na vida de Ivo por força do acaso. Conta que não é treinador específico de projetos paralímpicos, mas já soma uns bons anos dedicados ao assunto. “Treino atualmente pessoas com deficiência por gosto e porque mexe comigo”, relata.

José Macedo, campeão paralímpico de Sydney
José Macedo, campeão paralímpico de Sydney
Norberto Mourão, medalha de bronze em Tóquio 2021
Norberto Mourão, medalha de bronze em Tóquio 2021
Entrevista a Angelina Barreiro
Entrevista a Angelina Barreiro
Momento de igualdade de apoios
O desporto paralímpico alcançou um marco histórico no que diz respeito à equalização dos valores dos prémios e das bolsas comparativamente com o desporto olímpico, logo após as competições de Tóquio, em 2020. Mas anos antes o paradigma era bem diferente. Um dos atletas que melhor acompanhou esta mudança foi José Macedo, ex-praticante de boccia.
Em 2024, diz que uma medalha de ouro vale 50 mil euros, quer nos Jogos Olímpicos como nos Paralímpicos. Quando treinava, a mesma medalha valia apenas “5 ou 10 mil euros” para o desporto paralímpico. Quanto às bolsas e apoios governamentais por parte do Estado, também já são equiparados. “É um alívio”, confessa.
Os apoios hoje são os mesmos, mas a visibilidade que os atletas paralímpicos têm face aos olímpicos ainda é desigual. Quem o sente é Norberto Mourão, que sempre lutou para alcançar patrocínios.
“Desporto paralímpico não se fala, desporto olímpico fala-se pouco mas ainda é falado”, reconhece o atleta treinado por Ivo Quendera. “Tudo o que não seja uma bola nos pés em Portugal é muito esquecido. Somos lembrados de 4 em 4 anos quando trazemos resultados”. No entanto, frisa que o trabalho é diário e, sem visibilidade, é difícil chegar a apoios e consequentemente ter condições para competir.
Ainda que hoje as bolsas sejam equiparadas, muito “falta evoluir”, e quem o diz, sabe do que fala. Angelina Barreiro frequentou na Universidade do Minho o mestrado em Economia Social. Em 2021, escreveu a sua dissertação sobre o desporto paralímpico, motivada pelo seu gosto pelo desporto e ver desenvolvidas questões ligadas à inclusão social. “Não há quase literatura portuguesa e pouco se sabe sobre o assunto dos paralímpicos”, relata. No desporto olímpico, conta que o cenário é bem diferente.
Apesar dos Jogos Olímpicos terem muitos mais anos, defende que foi uma “ótima iniciativa” terem procurado adaptar os jogos para pessoas com deficiência. Se falarmos em medalhas, os Jogos Paralímpico levam vantagem em comparação com os Jogos Olímpicos.
“Em Portugal só se liga a futebol”
Em Portugal, os holofotes do desporto concentram-se quase exclusivamente no futebol. Ocasionalmente, fala-se dos Jogos Olímpicos. Mas e os Jogos Paralímpicos? Com muita sorte, são lembrados de quatro em quatro anos, e se os atletas trouxerem medalhas para casa. Quem o diz é Carlos Calaveiras, jornalista da Rádio Renascença há 25 anos.
Aproveita a sua hora de almoço, antes de ir dar uma aula, para nos falar sobre a falta de mediatização dos Jogos Paralímpicos em Portugal. “Nas capas dos jornais desportivos é muito difícil não ter futebol”, começa por dizer. E a situação ainda piora para o desporto adaptado, porque “ninguém quer saber”, lamenta. Tudo isto gera resultados evidentes, ficando os atletas paralímpicos expostos à falta de reconhecimento, cujos nomes permanecem desconhecidos para a maioria dos cidadãos portugueses.
Carlos destaca que a falta de visibilidade é em grande parte culpa da comunicação social. “Infelizmente, um treino do Benfica vale mais uma capa num jornal do que uma medalha paralímpica”. Tirando a RTP, que nos últimos 12 anos tem feito um esforço significativo para transmitir algumas provas paralímpicas, o jornalista sente que mais nenhum meio o tem feito. “Ou ganhamos uma medalha e vemos uma notícia num cantinho do jornal ou a fechar um noticiário, ou ninguém transmite nada”, observa.
A situação é ainda mais desanimadora quando se considera o impacto das plataformas digitais. “Na Renascença tentamos sempre acompanhar os resultados, mas na Internet temos poucos cliques comparados com os Jogos Olímpicos”, suspira. Por isso, não é muito próxima a relação que mantém com o desporto paralímpico.
“O desporto para pessoas com deficiência continua a não ter o mesmo tempo de antena que outros desportos, incluindo os Olímpicos.”
Também Tiago Barquinha consegue contar pelos dedos o número de contactos que teve na profissão com o desporto adaptado. Enquanto jornalista, escreveu “cerca de 10%” de notícias. Sente vergonha de o dizer.
Tiago licenciou-se em Ciências da Comunicação, pela Universidade do Minho, em 2019. É onde nos encontramos para conversar com o jornalista da RUM, que bem conhece os cantos à casa. Sempre foi apaixonado por desporto e por esse motivo encerrou o curso com um projeto final sobre Desporto Paralímpico. “Foi o meu primeiro grande contacto”, relembra.
Tiago Barquinha: "O projeto foi o meu primeiro grande contacto"
Tiago Barquinha: "O projeto foi o meu primeiro grande contacto"
Depois do curso, trabalhou na rádio, em Famalicão, onde realizou entrevistas pontuais a atletas de desporto paralímpico. Por ter ficado sensibilizado para o tema, explica que na RUM também procura colocar na agenda mediática para que não caia na “espiral do silêncio”.
Carlos Calaveiras também o procura fazer. Para as competições paralímpicas em Paris vão tentar repetir a mesma cobertura mediática que há uns anos. “Ainda não tivemos resposta afirmativa para acompanhar os treinos mas estamos a tentar”, adianta.
Mas será que o cenário vai mudar?
Tiago Barquinha ainda não perdeu a esperança. Quando olha para trás, percebe que já muito caminho foi percorrido na luta pela igualdade mediática face aos jogos paralímpicos. Embora admita que o desporto regular tenha mais valorização, o jovem dá conta do lado social. “Valoriza-se mais um atleta com deficiência hoje do que há 10 ou 15 anos”, considera. Além disso, acredita que a equiparação das bolsas olímpicas e paralímpicas, em 2020, já foi um passo importante na procura de “justiça social”.
Carlos Calaveiras vê a evolução da mesma forma. “Há 25 anos, quando comecei a carreira, não havia acompanhamento nenhum”, relata. O cenário a nível dos media não tem evoluído muito. Mas aponta razões que possam justificar. Primeiro, a falta de patrocínios. Se as empresas não derem nenhum patrocínio, torna-se mais difícil para a comunicação social poder fazer esse acompanhamento. A realidade, segundo Carlos, é que ainda continua a ser mais fácil para uma empresa “patrocinar 3 semanas para os olímpicos do que mais 3 para os paralímpicos” e, desta forma, fazer uma cobertura igual. “É um caminho que se tem que fazer”, perspetiva.
Carlos Calaveiras | Rádio Renascença
Carlos Calaveiras | Rádio Renascença

A procura pelo sonho paralímpico
Sara e Márcia são duas jovens promessas no mundo do atletismo adaptado. Com 22 anos, há muito que sonham com o apuramento para os Jogos Paralímpicos.

Está um típico dia de primavera. A tarde já vai longa no Estádio 1º de Maio, em Braga. É lá onde as gémeas Araújo treinam juntas seis vezes por semana. Sara e Márcia já se encontram na pista de atletismo a preparar o aquecimento. Quem não as conhece, inicialmente não as consegue distinguir. Saltam à vista alguns detalhes preciosos: Sara está de calções, usa aparelho e tem uma fita no cabelo.
O local, anteriormente tranquilo, começa a ganhar vida à medida que outros atletas vão chegando para partilhar a pista com as jovens.
Em maio de 2024, marcam presença no Campeonato do Mundo WPA para vestir a camisola das quinas. Mas não escondem que a sua maior ambição é viajar até Paris, em agosto. “Se não for nestes mundiais, será em 2028, queremos acreditar. É uma prova difícil de alcançar mas o sonho está cá”, dizem.
Esse sonho é conduzido por Emanuel Brandão, treinador, e por Vera Castro, atleta-guia, com quem partilham uma relação descontraída e próxima. Confirma-se pelas conversas em tons de brincadeira que têm, enquanto fazem o aquecimento. Partilham connosco que fazem treinos bidiários entre duas a três vezes por semana, intercalando com a musculação no ginásio. Quanto à preparação para os mundiais, contam que tem sido cada vez mais exigente.
Gémeas Araújo com o treinador e a guia
Gémeas Araújo com o treinador e a guia
Vera Castro é a atleta-guia de Márcia desde 2019. Já Sara é acompanhada por Ana Mendes, que não pode marcar presença no treino. Conduzir o sonho das gémeas nas competições paralímpicas é para Vera um objetivo claro, mas para isso não esconde o papel que os apoios exercem. “Se há atletas, temos de os ajudar”, afirma. Também ela ajuda, tanto dando incentivos como palavras de orientação.
Emanuel carrega igualmente a ambição de voar até Paris com as atletas, mas tem noção da dificuldade. “Os mínimos tornaram-se mais difíceis este ano, o que complica, mas se não chegarmos lá temos outros objetivos”.
Dá-se início ao treino. Vera acompanha as irmãs na corrida. Vão trocando conversas enquanto percorrem a pista. Emanuel está sentado na bancada, a cronometrar os tempos das atletas. Vai orientando-as. “Prontas? Três, dois, um, já!”. A voz firme do treinador ecoa no estádio.
Vera, Sara e Márcia a treinar
Vera, Sara e Márcia a treinar
Sara a treinar corrida
Sara a treinar corrida
Sara a treinar salto em comprimento
Sara a treinar salto em comprimento
Márcia a treinar salto em comprimento
Márcia a treinar salto em comprimento
Gémeas a treinar salto em comprimento
Gémeas a treinar salto em comprimento
Vão intercalando com a caixa de areia. O salto em comprimento ainda é uma novidade para Sara e para Márcia. “Tivemos de pedir muito ao nosso treinador para experimentarmos”, confessam-nos enquanto descansam. Tanto Vera como Emanuel não precisam de gastar muita saliva para orientar as gémeas, elas, que já sabem de cor todas as posições de partida e as linhas orientadoras. “Quando estiveres preparada, anda!”, diz Emanuel. Do ponto de partida até à caixa de areia apenas se entoam o número de vezes que têm de saltar. Repete-se o processo vezes a fio. Treino feito. Retomamos agora a nossa conversa.
No Estádio 1º de Maio treinam sempre juntas. Mas nas competições são obrigadas a competir uma contra a outra dentro de pista devido à falta de atletas. Os que existem, segundo Sara, já “estão em idade avançada”. Explica que, em casa, sempre teve uma família que a incentivava a seguir sem medo, mas a “mentalidade das pessoas” não permite que o desporto paralímpico cresça. Márcia faz das palavras da irmã as suas, mas ainda tem esperança que o cenário mude.
Para além da missão dos pais, as gémeas não deixam de fora o papel dos patrocínios. São atletas do Sporting Clube de Braga, que lhe cede o treinador, a guia e também o equipamento, mas não têm nenhuma ajuda financeira. “Somos atletas como os outros, a diferença é que temos um clube para representar”, sublinham.
Para Márcia, a sociedade ainda está numa fase em que “para dar patrocínios tem de ser uma pessoa muito falada”. Considera que as ajudas são “mais díficeis”, porque ainda não se conseguiram apurar para os Jogos Paralímpicos. Sente-se alguma tristeza no olhar. Além deste aspeto, a falta de visibilidade é um obstáculo que Sara e Márcia tem de lidar diariamente.
Heróis da vida real
Cada atleta carrega consigo histórias tão diversas quanto inspiradoras. Para alguns, o caminho até ao desporto adaptado partiu de nascença e transformou as adversidades em histórias de superação. Para outros, foi marcado por eventos inesperados que trouxeram à vida um novo rumo.





Assim aconteceu com Norberto Mourão.
29/09/2009: O momento em que tudo mudou…
Norberto Mourão andou perdido pelo meio da farinha até adaptar a sua vida ao desporto. Tinha 28 anos quando sofreu um acidente de mota que o deixou sem os membros inferiores. A sua carreira como pasteleiro terminou, mas abriram-se portas a uma nova trajetória repleta de desafios e conquistas.
Era madrugada, após um longo dia de trabalho. “Só pensava em chegar a casa”, recorda. No entanto, só retornou um mês depois, no dia em que completou 29 anos. O acidente privou-o das pernas, mas em momento algum o privou da determinação e vontade de viver. “Sou mais feliz hoje, com a limitação que tenho, do que era antes”, confessa com um brilho no olhar.
“As limitações são apenas o ponto de partida para novas conquistas, basta saber aproveitá-las.”
Consciente de que precisaria de fortalecer os braços para utilizar as próteses, encontrou no desporto um novo rumo. Em 2010, aventurou-se pelas águas e experimentou o caiaque, encontrando uma verdadeira paixão. Tentou por duas vezes chegar aos Jogos Paralímpicos, mas falhou nas finais. Foi então, em 2019, que decidiu abandonar oito anos de caiaque para se concentrar na canoa. “Lembro-me de ler publicações a dizer que a minha carreira tinha acabado ali”, recorda Norberto. O caminho não foi fácil, muitos duvidaram do seu potencial. Mas se em 2018 ninguém acreditava, a partir daí começou a alcançar medalhas.
A jornada de José Macedo
Assim como Norberto soube aproveitar a limitação que tinha, José Macedo também o fez. É o segundo atleta paralímpico mais medalhado em Portugal. De cadeira de rodas, depois de um acidente vascular aos sete anos, o boccia permitiu-lhe mostrar quem é.
É no coração da cidade minhota, a poucos minutos do Estádio Municipal de Braga, que vive José Macedo. Quem nos recebe é o pai, Manuel. A mãe está na cozinha a preparar o almoço, mas não hesita em vir cumprimentar. José está na sala a ver televisão. À entrada da casa, sobressaem os troféus, as inúmeras medalhas e recordações de tudo o que o boccia já lhe deu e que contam a história de um homem que nunca se deixou abater.
José Macedo sempre foi apaixonado pelo futebol. Aos 7 anos, enquanto jogava com os colegas, sofreu uma “paulada na cabeça” que desencadeou uma encefalite, provocando uma mutação na massa cefálica. Esteve em coma durante três meses. “Já o vi morto”, recorda a mãe, pensativa. O pai, por outro lado, encontrou uma faísca de esperança quando arranjou uma vela para o filho soprar, percebendo que aquele esforço ajudava na sua recuperação.
Hoje em dia continua dependente dos pais para comer. Diz que são o seu maior apoio. Além disso, tem algumas dificuldades na fala e precisa de uma cadeira adaptada para se movimentar. Mas José nunca perdeu o sorriso. Em 1992, decidiu experimentar o boccia, pois sempre foi apaixonado por atividades intelectuais como o xadrez, e, desde então, a sua trajetória foi marcada por uma série de conquistas. “O desporto ajudou-me muito em todos os aspetos”. O pai, Manuel, concorda. Em Merlim São Pedro, a freguesia onde reside juntamente com os pais, tem até uma rua e um pavilhão com o seu nome. “É um orgulho enorme”, elogia a famíilia.
Rua com o nome de José Macedo | Diário do Minho
Rua com o nome de José Macedo | Diário do Minho
Nostálgico, José recorda os tempos de adolescente. Felizmente, nunca sofreu preconceito. “Era um pagode, tinha muitos amigos”. Entre risos, conta que até fazia “peão com a cadeira de rodas”. No 10º ano, largou a escola para se dedicar completamente ao desporto. Com apenas dois meses de treino, participou numa prova regional e ganhou. Um ano depois, foi chamado à seleção nacional e conquistou duas medalhas no Campeonato Europeu, na Bélgica.
Mas a vida de atleta nunca foi fácil, muitas vezes custeando os materiais e as deslocações com os próprios recursos. “Quando veio do Brasil, recebeu dois pares de óculos de uma ótica, nada mais”, relembra o pai. Além disso, teve o patrocínio da BP que oferecia bolas e uma calha de jogo e a partir de 2009, aquando da fundação da secção de boccia do SC Braga, o clube passou a ajudá-lo com o transporte para competições internacionais. O pai de José, que sempre esteve ao seu lado, resume bem a jornada: “era eu que andava sempre para lá e para cá”.
Após 30 anos de carreira, em 2021, José decidiu que era hora de parar e abandonou completamente o desporto. “Já chegava”, afirma com satisfação. Agora, desfruta de uma vida tranquila. “Tenha a boa vida que bem mereço”, brinca.
José Macedo e a família
José Macedo e a família
Medalhas do atleta de boccia
Medalhas do atleta de boccia
José Macedo e o pai
José Macedo e o pai
Cadeira de rodas de José Macedo
Cadeira de rodas de José Macedo
José Macedo e o pai a mostrarem as medalhas paralímpicas
José Macedo e o pai a mostrarem as medalhas paralímpicas
Medalhas paralímpicas
Medalhas paralímpicas
Fotografia de Arquivo de José Macedo
Fotografia de Arquivo de José Macedo
Medalha da Ordem de Mérito Desportivo
Medalha da Ordem de Mérito Desportivo


Eunice Raimundo: a força do olhar no boccia
Eunice Raimundo nasceu com paralisia cerebral. Não faz movimentos voluntários nem se consegue expressar oralmente. Mas a Nice, carinhosamente tratada pelos amigos, caracteriza-se como uma grande comunicadora. O olhar é a sua ferramenta de eleição.
É fim de tarde e chove em Braga. Eunice está no Mercado Municipal. Ao seu lado, está Carla, acompanhante de longa data que a guiou até à medalha de bronze em Pequim, em 2008. Conheceram-se na escola secundária de Maximinos, onde Eunice estudava e Carla trabalhava.
Na mesa onde estão sentadas está um tablet de última geração. É da Eunice. Diz que foi um presente dos pais, e que, graças ao avanço da tecnologia, hoje pode fazer tudo o que antes não conseguia realizar com tanta facilidade: trocar e-mails, realizar chamadas e conversar no WhatsApp. Esta ferramenta, através de uma câmara, consegue ler o seu olhar e reproduzir as palavras em voz alta.
Eunice e o seu tablet que lhe permite falar
Eunice e o seu tablet que lhe permite falar
Carla tem 50 anos e acompanhou Eunice, de 47, ao longo de 19 primaveras. Foi com ela que aprendeu tudo o que sabe hoje sobre boccia. No início, contam que foi difícil a adaptação. Antes da Carla, Eunice perdeu a conta ao número de monitoras que por ela passaram. “Estavam com ela um mês, e iam embora”, deixando a atleta desamparada. Luís Marta, treinador, até lhe comprou uma camisola com a mensagem “não stresse”, brincam.
O boccia surgiu na vida de Eunice como uma oportunidade de agarrar um futuro promissor. Antes de ter a ajuda do SC Braga, saltava entre pavilhões para poder praticar. Com a ajuda da junta de freguesia, conseguiu arranjar um espaço para treinar no pavilhão de Ferreiros, mas Carla relembra que tinham de carregar os materiais de um lado para o outro cada vez que iam treinar. Atualmente, tem um espaço equipado para as suas necessidades. A ex-colega de competição considera que é um “sonho tornado realidade para quem está no boccia há muitos anos”. Eunice faz sinais de concordância. Ri calorosamente.
Sonho também foi, para ambas, subir ao pódio em 2008. Deixaram a família em casa para rumar a uma aventura que resultou numa medalha de bronze para Portugal. “Foi ver que não há limite”.
Eunice e Carla a mostrar a medalha paralímpica
Eunice e Carla a mostrar a medalha paralímpica
Eunice diz que a modalidade a tornou numa “pessoa melhor”. Melhorou a “concentração, a sua organização e dinamismo”, acrescenta Carla. Mas a sua vida não se resume ao talento para o desporto. “Ela tem uma inteligência fora da média”. Foi a melhor aluna a nível nacional no exame de alemão, organiza exposições e pinta.
Amélia a ajustar a calha
Amélia a ajustar a calha.
Equipamento da Eunice
Equipamento da Eunice
"Nós comunicamos muito e não parece"- Amélia
"Nós comunicamos muito e não parece"- Amélia
A comunicação entre Amélia e Eunice
A comunicação entre Amélia e Eunice.
A testar as bolas
A testar as bolas
Eunice com um sorriso.
Eunice com um sorriso.
Eunice e Carla
Eunice e Carla
Eunice com a medalha paralímpica ao peito
Eunice com a medalha paralímpica ao peito


Voar sem ver. A história de Sara e Márcia no atletismo
Sara e Márcia nasceram com uma grave doença visual. Contam que praticamente não veem nada. Enquanto Márcia vê igual dos dois olhos, Sara não tem qualquer visão do lado direito. Mas isso não as impede de fazer aquilo que mais gostam.
No início, foi difícil perceberem que não podiam “fazer tudo o que as outras crianças faziam”. Sara sentiu isso na pele. A irmã também. Mas sempre fizeram as aulas de educação física “como todos os outros”, só tinham que se adaptar.
Na primária, relembram que era “um bicho de sete cabeças” pensar na hipótese de usar bengala ou braille, com receio de sofrerem bullying, mas hoje lidam bem com isso. “Aceitarmo-nos como somos é um passo enorme para o sucesso em tudo da vida”, admite Sara.
A aventura até ao atletismo começou no desporto escolar, aos 10 anos. Iniciaram no goalball, uma modalidade praticada por atletas que possuem deficiência visual. Só depois saltaram para a pista e não se imaginam a fazer outra coisa. E se hoje chegaram ao atletismo, deve-se em parte ao esforço e apoio da família. Sara diz que em casa sempre foram incentivadas a fazer o que mais gostam. Sorri, orgulhosa.
Apesar da Márcia fazer uma distância maior em corrida, treinam sempre juntas, o que lhes dá imensa força. “É um apoio porque precisamos sempre de uma força extra que a vamos buscar à irmã, ao treinador e às guias”, dizem.
“Há dias mais difíceis que outros”, atira Sara. Fruto da limitação visual, praticamente só veem os contrastes. Em dias mais nublados é mais complicado de ver a pista. Treinar de noite é também algo que evitam, mas com a ajuda do treinador e da guia dizem que não há obstáculo que não consigam ultrapassar.
Sem novos talentos, sem futuro
Portugal tem falta de atletas para participar nas competições paralímpicas de 2028, em Los Angeles. De acordo com José Lourenço, presidente do Comité Paralímpico de Portugal (CPP), a falta de competição interna e o preconceito familiar são algumas das causas que dificultam a captação de novos talentos e que colocam em risco a presença portuguesa.
De ano para ano, os números de presenças portuguesas têm tendência para diminuírem. Existiam mais atletas em 1990 do que agora. Mas porquê?
Márcia Araújo não poupa nas palavras quando o assunto são a falta de atletas. Embora a paragem causada pela pandemia COVID-19 possa ter deixado marcas que compliquem a participação portuguesa, a escassez de atletas deve-se em parte ao preconceito familiar. “As famílias têm medo”, explica. Apesar de ter esperança que o cenário melhore, teme que um dia o desporto paralímpico possa terminar. “Quero acreditar que vai melhorar, mas todos temos de unir esforços para incentivar as famílias a sair de casa e experimentarem novas modalidades, se não isto vai acabar”.
José Macedo e o pai, Manuel, partilham da mesma opinião. “Existem poucos apoios e a família não tem tempo nem vocação, não integramos filhos na sociedade”, relatam. Embora consciente da incerteza face ao futuro, a mãe de José Macedo brinca. “Se não tiverem atletas que o venham buscar para ir a Los Angeles”. Já o pai, quanto ao futuro não pode falar. Mas uma coisa é certa: “se existirem pessoas a trabalhar mais atletas vão aparecer”, salienta.
Este mar de incertezas deve-se, para Angelina Barreiro, a uma clara falta de investimento do país. Quando olha para o exterior, percebe que por cá existe muito a “mentalidade de que pessoas com limitação não podem fazer desporto”, o que está a “arruinar a participação portuguesa”. Para que o cenário inverta, é preciso primeiro motivar as gerações mais novas, pois são elas as próximas a representar Portugal.
Além disso, é necessário para a jovem que as infraestruturas que dão apoio aos atletas evoluam, tanto em quantidade e qualidade, como a nível de localização. O seu estudo em 2021 dá conta que a maioria destas instituições se localizam nas áreas metropolitanas, criando um fosso no país. “É preocupante”, reforça.
Para Norberto Mourão, viver perante as incertezas faz parta do seu quotidiano. Como está integrado num projeto paralímpico, está sujeito a uma série de pressões e desafios que necessita de cumprir para garantir que recebe apoios. “É sempre uma incerteza saber se na próxima época tenho apoio”, lamenta. Para isso, todos os anos tem de garantir um lugar que lhe permita renovar a bolsa. Se porventura não conseguir entrar numa final, deixa de receber. “Ou ando sempre no topo ou acaba-se o apoio”, relata o atleta de paracanoagem.
17% da população portuguesa tem algum tipo de deficiência, segundo os dados do Instituto Nacional de Estatística.
Corresponde a mais de 1 milhão de cidadãos. Para o nível do desporto paralímpico evoluir tem de haver também mudança de mentalidades. “É preciso que pessoas com deficiência comecem a praticar desporto e vejam essa limitação como uma oportunidade de agarrem um futuro melhor”, explica o atleta. Foi assim que Norberto também procurou fazer quando as circunstâncias da vida o deixaram numa cadeira de rodas.
Luís Marta, enquanto coordenador de boccia, já tem uma visão mais positiva. Para ele, há menos atletas, “felizmente”, porque existem menos pessoas com deficiência, graças ao avanço na medicina e condições hospitalares. Por outro lado, entra o fator escolha. Antigamente, eram muito reduzidas as opções de vida. “Demos um salto muito grande na liberdade de escolha”. Sorri e logo retoma. “Há 30 anos era desporto porque não havia mais nada”.
Para 2028, só o futuro dirá. Mas para Paris, ultimam-se os treinos, cresce o nervosismo e as malas já estão a ser preparadas.

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