Os Jovens e a Igreja Católica.
Fé perdida ou crença renovada?

Enquanto que as denúncias de abusos sexuais assombram o coração da Igreja Católica portuguesa, há todo um outro grupo de fiéis que fica esquecido. Divididos em matéria de espiritualidade e fé, muitos sentem-se desamparados, mas alguns continuam a viver a religião em plenitude. Gonçalo, Hugo e Emanuel são três jovens que encaram a fé de diferentes formas. 

Emanuel, 20 anos. Junto à Sé do Porto, nota-se o calor na cara de um jovem que cedo perde qualquer timidez para falar sobre a sua vida. Conta que queria ser engenheiro, mas a vida levou-o para o caminho religioso. Hoje é aluno do segundo ano no Seminário Maior do Porto.

Ao pensarmos na palavra jovem raramente nos lembramos de jovens seminaristas. O mais comum é pensarmos em curiosidade, energia e na certeza de um futuro longo pela frente ou mesmo de uma busca pela independência.

Ser jovem é o sentir intensamente, mas principalmente o experienciar sensações, relações e emoções. Acima de tudo, ser jovem é questionar.

E é isso que muitos jovens fazem em relação à fé e à religião. Questionam-se sobre as práticas da Igreja Católica e sobre o que esta espera deles. Questionam-se sobretudo sobre a atual imagem da Igreja que, para António Marujo, fundador do jornal Sete Margens, "é uma igreja com duas ou três facetas, de certo modo, paradoxais ou contraditórias".

Focando nos jovens, o jornalista adianta que a Igreja os vê "muito mais na perspetiva de consumidor de atividades, do que propriamente como sujeitos, protagonistas, a quem é proposto um caminho de participação dentro da Igreja." E muitos jovens procuram o que a Igreja não lhes têm oferecido - um papel central.

No caso de Gonçalo Pereira, a fé assume também um papel essencial na sua vida. O jovem de 20 anos é responsável pelo Grupo de Jovens Nova Estrela, em Valongo, e faz parte do grupo coral da paróquia da sua terra.

Já o amigo Hugo Vieira, de 22 anos, não vê a espiritualidade como algo importante e afirma ser agnóstico. Admite não saber se existe ou não algum tipo de divindade, mas que está aberto a negar ou até mesmo acreditar na existência de um Deus, caso esta seja comprovada através de uma prova científica, lógica e racional.

Colocamos Hugo e Gonçalo frente a frente para debaterem sobre o papel da Igreja na vida de cada um. Durante o debate, os jovens discutiram sobre o que aproxima um e afasta o outro da crença em Deus.

Ainda jovens, recordam que a educação que tiveram também influenciou os seus caminhos espirituais. Seja pela família, amigos e até pela escola, Hugo e Gonçalo assumem que por estar tão intrínseca na sociedade, a religião é vista como algo quase inato ao ser humano. Mesmo assim, optaram por seguir percursos diferentes.

Surge então o tema da educação. Ainda que não tenha frequentado a disciplina de Educação Moral Religiosa e Católica (EMRC), Hugo não se importa que esta exista, devido ao seu caráter opcional. Já para Gonçalo, esta é uma forma de dar a conhecer alguns valores da Igreja Católica e mostrar aos jovens uma via que podem seguir em termos religiosos.

Além de conversarem acerca da dualidade ciência e religião, que é algo muito presente quando se discute sobre fé, os jovens discordam em certos tópicos, mas, por fim, aceitam que a Igreja, pelo seu passado e tradição, assume um lugar fundamental na vida de muitas pessoas.

O peso da tradição. Consegue a Igreja acompanhar as preocupações dos jovens?

Afinal, como é que os jovens se conectam com a Igreja? O que é ser jovem na Igreja Católica? A resposta pode parecer simples para alguns, mas, para muitos, o caminho da fé é longo e sinuoso. 

Há quem consiga facilmente assumir-se como católico, enquanto que outros têm receio do julgamento que pode existir no grupo de amigos. Ser-se católico é cada vez menos visto como algo intrínseco de uma sociedade. Atualmente, ser-se jovem católico pode até significar exclusão de certos grupos.  

Embora Portugal seja um país laico, sem religião oficial, a verdade é que é um país bastante religioso. De acordo com o World Population Review, que utilizou dados do CIA Factbook e do Pew Research Center, um instituto independente de análise de dados, Portugal é o nono país do mundo com maior percentagem de católicos, destacando-se, sobretudo, entre os países da Europa ocidental.

Contudo, olhando para este gráfico, podem surgir algumas questões. O que significa ser católico hoje em dia? Ser batizado? Rezar todos os dias? Não existe uma definição objetiva - cada um constrói a sua relação com a religião de acordo com os seus próprios critérios.

O ritual de ir à missa aos domingos, por exemplo, vai-se perdendo à medida que o ceticismo em relação à Igreja, enquanto instituição, aumenta, principalmente entre os jovens. Esta tendência, como aponta o CARA, um centro de investigação sem fins lucrativos, já se verificava antes da pandemia da Covid-19.

A Igreja está a passar por uma “fase terrível e uma crise brutal”, aponta Manuel Pinto, ex-professor catedrático e autor no Sete Margens. Contudo, reconhece que este não é um problema de agora, mas que, até há poucas décadas, vivíamos em sociedades onde o poder clerical calava a própria sociedade, enquanto que, nos dias de hoje, esta começa a exigir que haja consequências para quem pratica certo tipo de atos.

Deixa um exemplo: “haver padres que abusaram é gravíssimo, mas haver bispos que calam e tentam colocá-los noutro sítio já é um pecado institucional, é a própria estrutura a defender-se e a não assumir que tem um problema grave no seu seio".

"Vale mais o alegado prestígio da Igreja do que uma vida que é violentada”.
Manuel Pinto

Contudo, existem jovens que conseguem separar os problemas da Igreja, como instituição, dos valores fundamentais do cristianismo. Para muitos, a ligação com a fé começa por pequenos passos. Algo tão simples como frequentar a catequese, pertencer a um grupo de jovens ou até ser escuteiro podem ser o início da crença.

Mas será que estes ambientes teoricamente ligados à Igreja implicam necessariamente que os jovens sigam os desígnios de Deus?

Escuteiros: um movimento para a construção de um mundo melhor

No Agrupamento de Escuteiros de Ronfe, localizado no concelho de Guimarães, a maioria dos jovens caminheiros com quem falamos admite que a razão principal pela qual faz parte do movimento não se prende com a fé, mas sim com o convívio e as amizades.

Daniela e João Pedro afirmam que acabaram por desenvolver a vertente espiritual ao longo do tempo passado neste grupo de escuteiros. Outros jovens confessam que, mesmo tendo cumprido grande parte da jornada escutista, não se conseguiram ligar à fé.

Rui Gomes tem 33 anos e frequenta os escuteiros desde 1996, ano em que entrou para a secção dos lobitos, começando assim o seu caminho no escutismo. Agora, é dirigente da secção dos caminheiros do Agrupamento nº 5 do Corpo Nacional de Escutas (CNE), onde trabalha com jovens entre os 18 e os 22 anos. Explica-nos a dinâmica do escutismo e os motivos pelos quais os jovens ingressam e ficam nos escuteiros.

Para muitos, participar no movimento escutista é o primeiro passo da construção da fé, já que a questão da espiritualidade também é um dos aspetos trabalhados pelos grupos de escuteiros portugueses. Desde os lobitos até aos caminheiros e dirigentes são muitas as pessoas que fazem parte do CNE, sendo que juntos somam, atualmente, um total de cerca de 73 mil escuteiros.

Catequese: obrigação para uns, motivação para outros

Além dos escuteiros, a catequese também é uma iniciativa que atrai os jovens para a Igreja. Para muitos, estas reuniões semanais são o primeiro contacto com Deus e com a fé.

No entanto, são também muitos os jovens que desistem por não se identificarem ou por não ficarem atraídos pela forma, por vezes antiquada, como os assuntos são abordados. Assim, são muitos os que defendem um novo modelo de catequese que seja mais apelativo.

Para Francisca Costa, uma jovem de 19 anos que estuda Medicina na Universidade do Minho, estar na Igreja várias vezes por semana é algo normal. Catequista do oitavo ano, também canta no coro da Igreja e está num dos grupos de jovens da sua cidade, na Trofa.

Embora esteja envolvida em muitas atividades e as responsabilidades sejam cada vez maiores, Francisca não deixa para trás os seus compromissos no que toca à vida na Igreja. Por isso, aceita rapidamente contar-nos como funciona a dinâmica de catequese na sua paróquia.

Tal como Francisca, muitos jovens participam de diversas maneiras na Igreja Católica. Segundo um inquérito online sobre os Jovens e a Igreja lançado pelo Ponto SJ, o portal dos Jesuítas em Portugal, 78% dos jovens que responderam ao questionário participa ativamente na Igreja. A maioria envolve-se através da catequese, seja como participante ou catequista.

Para muitos jovens, pequenas atividades como estas são o início de uma longa caminhada religiosa. Para António Marujo, "aquilo que é proposto é sobretudo numa linha de os jovens estarem muito dentro da Igreja, muito enquadrados em estruturas, atividades, projetos e dinâmicas". É, muitas vezes, através destas iniciativas que as pessoas se ligam de tal forma à espiritualidade que dificilmente se distanciam dela.

Sempre fidelis. O caminho de quem vive a fé em plenitude

O percurso da fé gera dúvidas e reflexões pessoais já que essas decisões determinam a vida de qualquer pessoa. Mesmo para quem hoje faz parte da estrutura da Igreja Católica, em algum momento da sua vida apareceram questões sobre o seu papel na Igreja e o seu futuro religioso. Paulo Duarte e Pedro Teixeira, em diferentes fases da jornada, não foram exceção. 

Conhecido por muitos no Instagram e na televisão, a vida do padre Paulo Duarte também já pode soar familiar para alguns. “O comissário de bordo que decidiu ser padre”.

Esta foi mais uma história de uma vocação que apareceu de forma inesperada. Começou pela aviação civil, mas, após a morte de uma amiga próxima, surgiu uma certa inquietação e passou a questionar-se sobre Deus. Fala-nos da importância dos jovens para a Igreja Católica.

Autor de livros como “Rezar a vida” e “Deus como tu”, Paulo Duarte marca uma forte presença nas redes sociais e, ocasionalmente, em programas televisivos. Desta forma, o jesuíta diferencia-se ao utilizar as novas ferramentas digitais para atrair crentes e não-crentes e conta que, muitas vezes, utilizam estes meios para falar com ele sobre religião e espiritualidade. 

Jesuíta há quase 20 anos, conta que frequentou aulas de dança e que chegou a sofrer de bullying. Agora quer quebrar estereótipos e quer uma Igreja com mais abertura e menos moralismos. Como refere em algumas publicações da sua página de Instagram, que já conta com mais de 19 mil seguidores, considera fundamental "saber acolher, escutar e orientar".

Já para Pedro Teixeira, jovem que frequenta o ano pastoral e está prestes a tornar-se padre, a religião e o sonho de ser sacerdote sempre o acompanharam.

Tem 29 anos e é o mais novo de quatro filhos. Natural de Celorico de Basto, frequentou a catequese como mandava a educação católica que pautava na família. 

Conta que foi por volta dos sete anos que disse pela primeira vez que queria ser padre. Recebeu a resposta que qualquer mãe daria - mais tarde se vê.

“Muitas vezes, em criança, a minha mãe encontrava-me a celebrar a Eucaristia na sala dos meus pais”. Quem diria que 22 anos mais tarde estaria a poucos dias de o fazer a sério. 

DR. Pedro Teixeira na Universidade Católica.

DR. Pedro Teixeira na Universidade Católica.

A religião já fazia parte de si, e agora? Por volta dos 14 anos, a mãe do jovem Pedro decidiu falar com um pároco que o encaminhou para o pré-Seminário Menor, em Braga. Aceitou num piscar de olhos.

No entanto, parecia tudo muito fácil. “Depois de um tempo de pré-Seminário entrei para o 10º ano. Foi um tempo diferente porque era a primeira vez que saía de casa”.

No final desse ano, Pedro não se tinha habituado ao ritmo da comunidade e então decidiu voltar para perto da família. “Saí numa altura em que questionava tudo e hoje vejo que era muito novo”. 

DR. Pedro Teixeira nas celebrações da Páscoa, em Santo Tirso.

DR. Pedro Teixeira nas celebrações da Páscoa, em Santo Tirso.

Apesar de interrogar tudo ao seu redor, a fé permanecia intacta e as práticas religiosas da família, como rezar o terço todas as noites, também. A questão de frequentar o seminário voltou a surgir, mas, por achar que ainda não era o momento certo, Pedro decidiu tirar o curso de Viticultura em Viana do Castelo. 

No final desse período, aceitou o convite para frequentar o Seminário Maior de Braga. Mas, ainda não foi desta. “Saí por questões de força externa. Demasiado rebelde, talvez”.

Assim, o caminho passou por emigrar. Em França, perto do irmão, trabalhou como eletricista, mas tentou sempre manter uma vida ativa na comunidade, apesar das diferenças linguísticas e culturais.

DR. Pedro Teixeira nas celebrações da Páscoa, em Santo Tirso.

DR. Pedro Teixeira nas celebrações da Páscoa, em Santo Tirso.

Por fim, o seminarista lançou-se mesmo na vida religiosa, mas o cenário mundial mostra que o número de ordenações sacerdotais tem vindo a diminuir ao longo dos anos, segundo indica o Vatican News.

Pedro acredita que a Igreja não é simplesmente o edifício, mas as pessoas que a compõem. Um dos grandes problemas que aponta para a Igreja é a questão da ausência de jovens. "Hoje a presença dos jovens limita-se à catequese".

"Termina a catequese, terminam os jovens".
Pedro Teixeira

O seminarista reflete sobre o papel da comunidade em abrir-se aos mais novos. "A religião não é só para os mais velhos - é para todos sem exceção. Se ganharem gosto logo desde cedo, creio que continuarão com uma vida ativa na comunidade".

Assim, não descarta a importância dos jovens nem da primeira Jornada Mundial da Juventude, criada pelo Papa João Paulo II em 1985. “A Igreja sempre pensou nos jovens e o futuro passa por eles”.

O maior encontro de jovens católicos no mundo vai ser o próximo desafio para a Igreja Católica. Mas, que mensagem vai ser transmitida? O que querem os jovens ouvir?

Para Manuel Pinto, as Jornadas que se realizam em Lisboa, em 2023, agitam a Igreja e as dioceses, mas o ex-professor receia que esteja a faltar escuta e mais envolvimento, e até imaginação.

“Quando vi o primeiro vídeo das Jornadas, perguntava-me se aquela é a juventude portuguesa, porque eu achei que era um segmento social muito lisboeta - parece que se quer comunicar apenas com um certo tipo de gente”.

Vídeo oficial da Jornada Mundial da Juventude

Manuel Pinto confessa que é “preferível algo que fosse mais difícil, mas com pessoas que aderem porque veem que isso é importante para elas, e não com o objetivo de impressionar a sociedade”.

Embora reconheça que a sua maneira de ver seja minoritária na Igreja, salienta a importância da diversidade de perspetivas, porque vê isso como um “sinal de enriquecimento”.

Aponta ainda que, apesar de serem as Jornadas Mundiais da Juventude, não atribuem papéis aos jovens para a sua dinamização. “Por que é que haverão de estar os bispos à frente disto? Não entendo. Por que é que não estão os jovens?”, inquieta-se.

Rapidamente responde: “[os bispos] querem controlar tudo, não passam responsabilidade, porque têm medo que fuja ao controle deles - depois queixam-se que não há gente, mas não há porque não lhes dão poder”.

À semelhança do que defende o Papa Francisco, reconhece que prefere “uma Igreja a sangrar, mas porque andou no contacto com as pessoas, do que os puros todos perfeitinhos metidos entre si”, querendo uma Igreja que está no meio da guerra, no meio da comunidade.

"Os jovens não querem uma Igreja calada e tímida"

- Papa Francisco

person wearing white cap looking down under cloudy sky during daytime

Photo by Nacho Arteaga on Unsplash

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O sucessor de São Pedro. O peso destas palavras cai sobre um homem “com nome e apelido que tem uma maneira de viver e de encarar a vida e que não a abandona quando chega a Papa”. Estas são as palavras de Aura Miguel, a única jornalista vaticanista portuguesa, que já fez 102 viagens com os últimos três Papas. 

Quando começou a ser vaticanista, era apenas uma das cerca de cinco mulheres no avião papal. “Nunca na vida sonhei que viria a integrar a comitiva do Papa e viajar com ele dentro de um avião”.

Agora, com acreditação permanente no Vaticano, a jornalista da Renascença faz um trabalho singular na cobertura de acontecimentos religiosos. 

Por ter conhecido de forma tão próxima os três últimos Papas, Aura confessa que são completamente diferentes de feitio e de estilo, até pelas idades em que vestiram a tiara papal. Conta-nos um pouco mais sobre cada um deles.

Ainda que tudo pareça um mar de rosas de progresso, há uma Igreja discreta e conservadora que tem crescido em diversos países. Portugal não é exceção. Apesar de não termos obtido respostas por parte deste ramo da Igreja, a VISÃO conta que esta atrai “jovens fiéis e sacerdotes que aprendem o ritual (do latim) em segredo.” 

Embora um lado mais conservador ainda subsista, há margem para escutar novas vozes. De 6 a 27 de outubro de 2022, vai realizar-se, em Roma, a Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos, convocada pelo Papa Francisco em outubro de 2017.

O que é o Sínodo? Para que serve? Qual é a sua importância?

O Sínodo é uma das muitas iniciativas tomadas durante o pontificado do Papa Francisco e visa perceber qual a opinião dos crentes quanto a vários assuntos relacionados com a Igreja Católica. De uma forma geral, pode ser definido como uma reunião do episcopado da Igreja Católica com o Papa, auxiliando o Santo Padre a governar a Igreja. 

Em relação ao Sínodo, Manuel Pinto receia que as opiniões dos leigos sejam filtradas e que quando cheguem ao Vaticano já tenham pouco a ver com o que as pessoas pretendem ver mudado na Igreja.

O antigo professor catedrático lamenta que Portugal não tenha um responsável nacional pelo Sínodo, enquanto que países como a Irlanda têm mulheres jovens à frente da dinâmica sinodal. Olhando para outros países, reconhece que os padres portugueses não estão preparados para fazer esta mudança de paradigma, porque não foi assim que foram “formatados”. 

O Ponto SJ realizou, no início deste ano, um inquérito online que pretendia recolher respostas sobre a relação dos mais novos com a Igreja. Uma das conclusões mais relevantes é sobre a ajuda que a Igreja proporciona, ou não, em temas como a afetividade e sexualidade.

Ainda de acordo com os resultados apresentados pelos Jesuítas, muitos jovens mostraram uma significativa preocupação com a dimensão do acolhimento e da aceitação, em particular das pessoas com orientação homossexual/LGBTQ+. Referiram ainda o papel da mulher na Igreja e na sociedade como uma realidade em que a mudança deve ser ponderada. 

Além disso, as inquietações dos jovens prendem-se sobretudo com o futuro, no que respeita às escolhas vocacionais e às opções quanto ao trabalho e à família, na vivência da vida, nas relações familiares ou na participação cívica e política.

“A malta nova não sabe como há de ter uma família própria, autonomia, lidar com a precariedade e poder viver uma vida com sentido. Se isto não tem a ver com a experiência da Igreja, a Igreja não serve para nada”.
Manuel Pinto

Em relação à homossexualidade, existe já uma série de padres em Portugal que estão a acompanhar grupos de gays católicos, tanto casais como pessoas individuais, que cresceram católicos, mas se sentem abandonados pela Igreja.

De acordo com o investigador do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade, a questão dos LGBTQ+ não é um problema para este Papa, que reconhece que somos todos diferentes. “Quem se encontra nestes grupos pensa: por que é que nós não podemos lutar também e, sobretudo agora num contexto de Sínodo, reivindicarmos o nosso espaço?”.

O Papa Francisco já expressou publicamente o seu apoio à união civil de casais do mesmo sexo, o que choca frontalmente com a posição do Vaticano. Pela Europa, os católicos variam muito no apoio ao casamento homossexual e à aceitação da homossexualidade em geral, de acordo com as pesquisas do Pew Research Center.

Ainda segundo o mesmo estudo, uma grande parte dos jovens apontou que a Igreja pouco ajuda no que diz respeito a uma vivência saudável da afetividade e da sexualidade, contrariamente às conclusões do inquérito nacional do Ponto SJ.

Para Manuel Pinto, questões como a sexualidade sempre foram evitadas pela cultura eclesial, que sempre olhou para elas mais pelo lado do pecado. 

Neste momento, o futuro da Igreja Católica depende da capacidade que esta tem de responder a todas estas questões. Só assim é possível cativar os jovens e colocá-los no centro das preocupações. É preciso ouvi-los agora para que as visões que têm para a Igreja provoquem mudanças no futuro.

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