Novos ventos para o Turismo?

Uma lufada de ar fresco ou uma rajada de imprecisões? O setor (sobre)vive ao sabor da chegada dos turistas, que tardam em chegar.

Se o turismo representava, em 2019, cerca de 17% do Produto Interno Bruto (PIB) português, em 2020, já (só) valia 8%. Uma queda acentuada que revela o quanto Portugal depende do setor e o quanto a pandemia, provocada pela Covid-19, impactou negativamente a economia nacional. As medidas de desconfinamento, fruto dos resultados otimistas da vacinação em massa, tendem a animar os agentes do turismo.


Todos a bordo!


O turismo vive de partidas e chegadas. O fluxo, porém, é, agora, limitado pelas restrições sanitárias impostas pelos diversos Estados. Depois de meses confinados ao território nacional, há quem já tenha (re)começado a cruzar os céus, rumo à descoberta e à normalidade possível.

É o caso de Rafael Polónia, fundador da agência de viagens Landescape, que se encontra atualmente na Jordânia com um grupo de dez portugueses. O empresário e líder de viagens alternativas há muito que ansiava por este regresso à normalidade. Rafael dedicou o período pandémico à programação de novas rotas para satisfazer os clientes. Foi, por isso, com grande excitação que o amante de viagens voltou "à estrada". Depois de terem cumprido todas as medidas de segurança - nacionais e internacionais - Rafael e os viajantes que o acompanham têm, agora, o privilégio de desfrutar de um país ainda desprovido de turistas.

Rafael Polónia, fundador da Landescape

Rafael Polónia, fundador da Landescape


"A pandemia apanhou-me"
Filipe Morato Gomes

Desejosos para retomar as viagens estão, também, os bloggers de viagens. Filipe Morato Gomes, autor de um dos blogs de viagens mais antigos de Portugal - Alma de viajante - e presidente da Associação de Bloggers de Viagem Portugueses (ABVP), reconhece que o ano não foi fácil para a atividade. Foi um período marcado por frustrações em que a palavra mais badalada foi, invariavelmente, “cancelar”.

O blogger, que consegue o feito raro de, em Portugal, conseguir viver exclusivamente da sua paixão pelas viagens, admite que a "atividade é feita de altos e baixos". O último ano provou isso mesmo. “A pandemia apanhou-me”, lamenta o viajante que sempre privilegiou a liberdade à segurança e à estabilidade financeira. Mas não foi caso isolado já que, segundo ele, todos os associados da ABVP viram as viagens canceladas e os projetos adiados. Filipe, quanto a ele, aproveitou os quinze meses de paragem forçada para atualizar-se.

Filipe Morato Gomes, blogger de viagens, fala sobre os confinamentos

Filipe Morato Gomes, blogger de viagens, fala sobre os confinamentos

Foi, no entanto, com satisfação que o influencer rumou ao México, mal teve a oportunidade. Ficou lá três semanas. Desta vez, viajou de forma diferente da habitual. Optou por alugar carro para evitar os transportes públicos e afastou-se dos lugares mais frequentados, conforme os seguidores puderam acompanhar pelo Instagram.


Trilhar caminho


Os números revelam que o turismo representa um dos pilares da economia portuguesa. O Governo aposta numa particular intervenção no setor para uma retoma económica rápida. A par do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), foi estabelecido um programa paralelo - o "Reativar Turismo" - destinado especificamente a este ramo.

Segundo dados da Organização Mundial do Turismo (OMT/UNWTO), o turismo mundial sofreu, em 2020, o pior ano desde que há registo, com um decréscimo de 74% das chegadas internacionais. No primeiro trimestre de 2021 chega mesmo aos - 83%. Portugal não contraria a tendência mundial. O país enfrentou uma descida de 93% de turistas internacionais no início de 2021.

Chegadas de turistas internacionais a Portugal em fevereiro 2021 Fonte: UNWTO

Chegadas de turistas internacionais a Portugal em fevereiro 2021 Fonte: UNWTO

De acordo com o Instituto Nacional de Estatísticas (INE), no primeiro trimestre de 2021, o Produto Interno Bruto (PIB) português, em termos reais, registou uma variação homóloga de -5,4%. O valor reflete, pois, os efeitos do confinamento geral decretado no início deste ano, devido ao agravamento da pandemia.

No entanto, o relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), divulgado a 31 de maio, refere que "após uma queda acentuada em 2020, projeta-se que o PIB [português] aumente 3,7% em 2021 e 4,9% em 2022". Uma revisão em alta, relativamente às previsões de dezembro. Mesmo assim, o valor fica aquém do apontado pelo Governo português, que visava os 4%. O relatório da OCDE acrescenta que "o turismo e os serviços com maior interação pessoal recuperarão apenas gradualmente até que a pandemia esteja totalmente controlada".

Certo é que a redução dos casos de Covid-19, por toda a Europa, permitiu uma reabertura gradual das fronteiras no espaço Schengen e animou o setor. Só a 17 de maio, dia em que Portugal autorizou as viagens não essenciais a partir do Reino Unido, chegaram 5500 britânicos a Faro, em 17 voos. 

Mas decisões políticas, como a do Reino Unido, de 3 de junho - que exclui Portugal da lista verde dos países seguros para viajar a partir de 8 de junho -, poderão contrariar o otimismo do setor. "Tomamos nota da decisão britânica de retirar Portugal da 'lista verde' de viagens, uma decisão cuja lógica não se alcança. Portugal continua a realizar o seu plano de desconfinamento, prudente e gradual, com regras claras para a segurança dos que aqui residem ou nos visitam", pode ler-se no Twitter oficial do Ministério dos Negócios Estrangeiros. Em contrapartida, o Governo francês anunciou, dia 4 de junho, que, a partir de dia 9 de junho, a França dispensa a apresentação de testes PCR aos europeus vacinados.


Se os números das chegadas aos aeroportos portugueses ainda estão muito abaixo do normal, para esta altura do ano, a curva tende, no entanto, a crescer, conforme os gráficos da TravelBi permitem comprovar.

Evolução das chegadas aos aeroportos europeus

Semanas antes, a abertura dos postos fronteiriços terrestres também teve reflexos. Comerciantes de Valença, Faro e Braga sentiram os efeitos positivos do regresso dos turistas espanhóis. Em Braga, representam 80% dos visitantes. O Posto de Turismo de Braga confirma a elevada presença de nuestros hermanos na cidade minhota, referindo que a maioria chega da vizinha Galiza.

Sons captados em Braga numa tarde de maio revelam movimento na cidade

" Portugal não muda a rota. Apenas acelera o caminho".
Celeste Varum, Adjunta da Secretária de Estado do Turismo.

E se Portugal tem recebido tantos turistas é porque tem tido uma "boa performance no controlo da pandemia", assegura Celeste Varum, Adjunta da Secretária de Estado do Turismo. A representante do Executivo está, por isso, confiante em relação ao verão de 2021. "Sempre com cautelas", mas com um olhar positivo, afirma. Até porque, acrescenta, "a procura está a aumentar continuamente". Prova disso é o estudo da Statista que posiciona Portugal no sexto lugar do ranking dos países europeus preferidos para viajar na Europa, em 2021.

Importa, nesta fase, acima de tudo, abrir. Depois, acelerar. É isso, aliás, que propõe o plano de ação "Reativar Turismo | Construir o Futuro", que o Governo apresentou no dia 21 de maio.

Igualado a um "guião orientador para o relançamento pós-Covid do turismo", o plano, orçado em seis mil milhões de euros, reúne um conjunto de iniciativas dirigidas às empresas, aos turistas e aos residentes. O documento, assente em quatro pilares de atuação - apoiar empresas, fomentar segurança, gerar negócio e construir futuro -, prevê, acelerar a transição do turismo.

Celeste Varum assegura que o setor do turismo "não precisa de uma mudança estrutural", uma vez que já existe capacidade instalada, empresas competitivas e pessoal competente. Foi por esse motivo, aliás, que o ramo turístico não foi diretamente contemplado no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

Em termos económicos, a meta é atingir, em 2027, receitas na ordem dos 26,6 mil milhões de euros. A investigadora assegura-nos, ainda assim, que o plano "Reativar Turismo" não é demasiado ambicioso. Procura (apenas) tornar Portugal um destino turístico "mais sustentável, digital e competitivo. Muitas [medidas] são um reforço, não uma mudança radical", sublinha. Além disso, garantiu-nos a Adjunta da Secretária de Estado para o Turismo, em Portugal, "há capacidade para implementar o plano", uma vez que o país "não muda a rota. Apenas acelera o caminho".

Celeste Varum, Adjunta da Secretária de Estado do Turismo

Celeste Varum, Adjunta da Secretária de Estado do Turismo

No entanto, "não há datas definidas". Existem várias medidas que "dependem da negociação com a União Europeia (UE)", justifica-se Celeste Varum. Não obstante, as medidas serão "sequencialmente executadas", garante. Em termos de financiamento, a adjunta disse que o "Reativar Turismo" inclui apoios nacionais e internacionais, para além de uma "esperada cooperação" entre os setores público e privado.


Aeroporto Francisco Sá Carneiro, Porto
Aeroporto Francisco á Carneiro, Porto
Aeroporto Francisco Sá Carneiro, Porto
Aeroporto Francisco Sá Carneiro, Porto
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Aeroporto Francisco Sá Carneiro, Porto
Aeroporto Francisco á Carneiro, Porto
Aeroporto Francisco Sá Carneiro, Porto
Aeroporto Francisco Sá Carneiro, Porto

Portas abertas com ânimo


Maria do Céu Marques, guia em Braga desde 2017 - atualmente ligada à Cooperativa Minho de Porta Aberta, Cooperativa Cultural e Social, CRL, espera com grande expectativa o regresso dos turistas.

Por força das circunstâncias pandémicas, o trabalho da guia local na cidade bracarense reduziu-se a zero durante grande parte do último ano. Sem turistas - quer nacionais, quer estrangeiros - Maria do Céu ficou sem trabalho e sem qualquer rendimento, já que prestava serviços a recibos verdes. A profissional local revela que "se não tivesse tido o apoio familiar, as coisas teriam sido muito difíceis em termos económicos". Provavelmente "teria sido forçada a mudar de ramo de atividade", admite.

Maria do Céu, guia local, fala do impacto da Covid-19 na sua vida pessoal

Maria do Céu, guia local, fala do impacto da Covid-19 na sua vida pessoal

Porém, positiva e apaixonada pela sua atividade, a colaboradora da Minho de Porta Aberta não desanimou. Decidiu reinventar-se e apostar na formação, nomeadamente na área do turismo inclusivo. A pretensão da cooperativa cultural é criar não só condições para "abrir as visitas a mais públicos", como ser capaz de "fornecer todas as informações de que essas pessoas necessitam".

A profissional do turismo regressa, agora, lentamente, à atividade. As reservas são "animadoras", diz Maria do Céu, que acredita numa "retoma gradual e positiva".

Maria do Céu acredita numa "boa" retoma da atividade

Maria do Céu acredita numa "boa" retoma da atividade

A Cooperativa Minho de Porta Aberta - que decorre de um anterior projeto denominado Minho Free Walking Tours e reconhecível pelos guarda-chuvas verdes dispersos pela cidade - oferece um serviço de visitas guiadas por várias cidades minhotas, nomeadamente Braga e Guimarães. A cooperativa é, também, coordenadora local do projeto Tourism Friendly Cities do programa europeu URBACT, cujo objetivo é promover o desenvolvimento urbano sustentável a nível ambiental, social e económico.

"Tourism friendly cities", uma iniciativa URBACT

Decorrente da sua atividade, o administrador conhece a realidade local dos agentes turísticos. Ressalta, nesse sentido, a instabilidade do setor que entende estar intimamente ligada à própria evolução da pandemia. No caso específico da cooperativa, se até ao dia 11 de março de 2020, “todos os dias, sem exceção, houve guias no Arco da Porta Nova à espera de turistas, às 11 e às 15 horas", durante os confinamentos, a atividade, pura e simplesmente, desapareceu.


#EuFicoEmPortugal


Com apenas dois anos de existência, a ABVP, que nasceu da iniciativa de um pequeno grupo de amigos do Facebook tem, hoje, cerca de 65 associados. O presidente, Filipe Morato Gomes, acredita que “quando se unem forças, ganha-se outra dimensão”. E foi o que efetivamente aconteceu no último verão. Impedidos de viajar além-fronteiras, os associados da ABVP decidiram unir forças e promover o território através da campanha #EuFicoEmPortugal. A iniciativa extravasou todas as expectativas, com “um alcance inimaginável”, conta Filipe Morato Gomes.

A iniciativa #EuFicoEmPortugal pela voz de Filipe Morato Gomes

A iniciativa #EuFicoEmPortugal pela voz de Filipe Morato Gomes

O resultado das propostas de viagens dos bloggers portugueses será publicado em livro e estará disponível nas livrarias nos próximos dias.


Bússola apontada para Norte


Posto do Turismo, Braga

Posto do Turismo, Braga

Largo do Toural, Guimarães

Largo do Toural, Guimarães

Ponte de S. Gonçalo, Amarante

Ponte de S. Gonçalo, Amarante

Vista a partir do Mosteiro de Tibães, Braga

Vista a partir do Mosteiro de Tibães, Braga

Porto, a partir do Palácio da Bolsa

Porto, a partir do Palácio da Bolsa

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Posto do Turismo, Braga

Posto do Turismo, Braga

Largo do Toural, Guimarães

Largo do Toural, Guimarães

Ponte de S. Gonçalo, Amarante

Ponte de S. Gonçalo, Amarante

Vista a partir do Mosteiro de Tibães, Braga

Vista a partir do Mosteiro de Tibães, Braga

Porto, a partir do Palácio da Bolsa

Porto, a partir do Palácio da Bolsa

Muito se tem falado do impacto da pandemia no Algarve, destino turístico por excelência em Portugal. Porém, também a Norte a ausência de turistas se fez sentir. A economia local de cidades como Porto, Braga, Guimarães e Amarante foi, também, duramente afetada.

Rui Marques, diretor-geral da Associação Comercial de Braga (ACB), falou-nos do "impacto colossal" dos confinamentos sobre o setor. Fez questão, ainda, de mencionar alguns dos sentimentos que se apoderaram dos empresários da região - "medo, incerteza, desconhecimento e insegurança".

Com o vírus instalado, a ACB foi, por isso, "bombardeada" com pedidos de ajuda e aconselhamento. Afinal de contas, era a sustentabilidade das próprias empresas que estava em causa. E o futuro de centenas de trabalhadores.

A queda, como explicou Rui Marques, é, ainda assim, suavizada em 2020, "porque os três primeiros meses do ano não foram atingidos pela pandemia". Além de que, o verão comportou alguns resultados proveitosos.

No caso das agências de viagem e animação turística, a rutura foi de 75%, sendo que "houve meses onde a quebra foi praticamente 100%", lembra Rui Marques.

Apesar de tudo, o setor "mostrou-se muito resiliente", revelou o economista de formação. Houve menos "dinâmica empresarial", é certo, mas os trabalhadores souberam responder, dando "utilidade ao tempo". Prova disso são os números, "sem precedentes", das inscrições em formações promovidas pelas ACB.

Rui Marques, diretor-geral da ACB

Rui Marques, diretor-geral da ACB

Maria do Céu, guia turística, foi uma das pessoas que apostou na formação durante os confinamentos.

A formação foi a aposta de muitos agentes do Turismo

A formação foi a aposta de muitos agentes do Turismo

Agora, o verão, estação pela qual os associados mais aguardam, volta a ser a grande aposta. Alimentada pela convicção do Rui Marques de que Braga, "dentro do turismo cultural, tem condições para ser das cidades mais procuradas". Na verdade, acrescenta, o número de pessoas que têm procurado Braga como " a base para descobrir o Norte de Portugal" é crescente. Pela dimensão da cidade, o que agrada nesta fase os turistas, e por estar "próxima de zonas com natureza", remata.


"O turismo é uma aposta clara [da Câmara de Amarante]"
Tiago Ferreira

E se dúvidas restassem quanto ao potencial turístico do Norte de Portugal, a lista de destinos para visitar em 2021, proposta pelo jornal britânico The Guardian, dissipa-as. Amarante, por exemplo, surge em primeiro lugar naquela lista. Há um ano, foi a revista Visão a colocar Amarante no primeiro lugar das "50 razões para amar Portugal".

A InvestAmarante, equipa económica ligada ao Município, lançada em 2016, tem como propósito “apoiar o investimento no concelho e promover o desenvolvimento económico", trabalhando com as "empresas e as fileiras económicas existentes”, clarificou o diretor-executivo, Tiago Ferreira.

O Turismo é uma aposta clara do Município, assegura Tiago Ferreira

O Turismo é uma aposta clara do Município, assegura Tiago Ferreira

Existem, atualmente, 35 intenções de investimento turístico, em Amarante. Algumas das quais, surgiram durante o próprio período de confinamento.

Peso do Turismo em Amarante

Peso do Turismo em Amarante

A localização central, entre diversos pontos de interesse, faz de Amarante o “sítio ideal para regressar depois de cada aventura no Norte”, refere Tiago Ferreira. Um argumento reiterado por Rui Marques, da ACB, relativamente à cidade de Braga.

A pandemia, inevitavelmente, impactou negativamente a economia local. As perdas no setor foram “muito grandes” em Amarante , diz o representante da InvestAmarante.

Tiago Ferreira não nega os impactos económicos na região

Tiago Ferreira não nega os impactos económicos na região

Os empresários do ramo tiveram que lidar com os inúmeros cancelamentos. E se no verão passado ainda conseguiram reservas, nomeadamente para locais mais deslocalizados, o “inverno foi muito mau”, lamenta o diretor-executivo.

Nas últimas semanas, segundo o economista, assiste-se a uma retoma progressiva. A baixa densidade populacional do território, nesta altura de distanciamento social, é "um claro benefício", aponta, e um motivo de atração dos turistas. Até porque, “o turismo tem um efeito de arrastamento” no comércio, menciona ainda Tiago Ferreira. O turismo pode até não ter um peso dominante no concelho – a indústria e as tecnologias digitais é que têm -, mas tem reflexo em todos os setores.

Tiago Ferreira fala sobre o programa "Amarante das Profissões"

Tiago Ferreira fala sobre o programa "Amarante das Profissões"

Tiago Ferreira acredita que “o turismo poderia ganhar em ser tratado a partir da economia”. Isto porque “atrair turistas vai atrair investimento turístico”, defende. “Cada hotel novo, para além de criar turismo, também faz marketing do destino.” Como exemplo dessa sinergia, refere o trabalho realizado com a TIME OUT-AMARANTE em que todos os agentes do Turismo se uniram e promoveram a região.

Filipe Roquette, diretor-geral da Bloom Consulting, que trabalhou na estratégia de marketing para a cidade de Guimarães, fala precisamente sobre o fator "Marca" da cidade, que a autarquia decidiu elevar.

Com a pandemia o plano sofreu alterações

No Porto, o Turismo também detém um peso "relevante", assegura o vereador com este pelouro, Ricardo Valente. Embora desvalorizado pela maioria dos cidadãos, como acredita o ex-vice-presidente da Direção da Associação de Turismo do Porto e Norte, este é um setor que, ao longo dos anos, "vem contribuindo para a redução das taxas de desemprego, criminalidade e abandono escolar".

O Turismo também permitiu ao Porto uma situação de emprego mais "equilibrada", afirma Ricardo Valente

O Turismo também permitiu ao Porto uma situação de emprego mais "equilibrada", afirma Ricardo Valente

Ora, sem surpresas, a pandemia afetou "enormemente a cidade". Em termos de volume de negócios, o Porto afundou, nos meses março e abril de 2020, perto de 66%. O que representa uma quebra "tremenda, gigante", classifica. Mesmo com o desconfinamento, "a queda foi de 20%, em termos homólogos".

O Norte, ainda assim, "sofreu menos do que o país", assegura o vereador - é uma economia mais "diversificada, industrializada". Mas os trabalhadores do setor, em qualquer parte do globo, têm sofrido. Porque, afinal de contas, a volatibilidade do dias é "terrível, devastadora, o pior".

É impossível construir-se um negócio com esta incerteza
Ricardo Valente, vereador na Câmara do Porto com o pelouro do Turismo

No Porto, não há, por isso, grandes "euforias" em volta deste ano. "A aposta terá que continuar a ser os portugueses. No limite, os espanhóis. E acho difícil ir além disso", lamenta.

Mas a cidade no pós-pandemia continuará a ser turística. Pelo menos, é essa a expectativa do Município. Com uma certeza, apesar de tudo: "o Porto nunca será uma cidade de turistas; o Porto será sempre uma cidade com turistas".

"O Turismo não desqualifica", é a garantia do vereador

"O Turismo não desqualifica", é a garantia do vereador

A longo-prazo, porém, o país medirá forças com destinos que, até então, "não concorriam com Portugal, mas que agora vão investir brutalmente". "A Galiza tem um budget [orçamento] para o turismo de 18 milhões de euros. A região Norte tem um budget de quatro milhões. É quatro vezes mais", sublinha. Assim, observa, "o pós-pandemia será muito mais difícil que o antes-pandemia."

O hostel Des arts, localizado no coração de Amarante é exemplo do otimismo dos vários players do turismo local. O espaço é um ícone na cidade. O edifício albergou o "Grande Hotel Silva", o primeiro hotel da vila e único na região por mais de 40 anos. O hotel que sofreu uma grande remodelação no princípio dos anos 90, alterando, inclusive, o nome para "Albergaria D. Margaritta", em homenagem à fundadora. Em 2017, os descendentes decidiram criar um novo conceito: um hostel, dando cara nova ao espaço.

Márcia, funcionária do hostel desde a abertura, vivenciou de perto - e na pele - os efeitos da pandemia. Em 2020, o espaço não só esteve fechado de março até junho, como teve que lidar com muitos cancelamentos. A administração não teve outra opção senão recorrer ao lay-off para os trabalhadores. No entanto, "as despesas não foram cobertas pelo lay-off", como lembra a rececionista - e essas, em boa verdade, nunca deixaram de existir, mesmo com o hostel encerrado.

Também em 2021, o espaço esteve encerrado de janeiro até ao início de abril, tendo (re)aberto para a Páscoa. Márcia adianta que, por enquanto, a maior procura é dos portugueses durante o fim de semana. A 20 de maio, por exemplo, graças ao "Rally de Portugal", as 15 suítes estiveram ocupadas. Mas, geralmente, durante o resto do ano, os clientes pernoitam de sexta a domingo. Só em agosto é que a duração das estadias se prolonga para além do fim de semana.   

 

 

 

 

 

 

 


Turbulento 2020


Mais de 15 meses de pandemia deixaram marcas num setor que se encontrava, até então, em claro crescimento. Os confinamentos e as restrições de viagens ditaram a paragem das atividades ligadas ao turismo, com reflexo nítido na economia portuguesa.

Segundo dados do World Travel Tourism Council (WTTC), o setor do turismo sofreu uma perda de quase "4,5 triliões de dólares em 2020, com a contribuição para o PIB a cair 49,1%, comparativamente a 2019".

Em termos de emprego, em 2020, quase 62 milhões de pessoas ficaram sem trabalho dentro do setor turístico, representando uma queda de 18,5%:

Fonte: WTTC

Fonte: WTTC

"Considerando o total de passageiros desembarcados nos aeroportos nacionais, no primeiro ano da pandemia, registou-se um decréscimo de 80,6%", diz relatório do INE.

O ano de 2020 foi, sem dúvida, um ano atribulado para o setor:


Estado: o piloto em tempos de crise?


Face a estes números foi inevitável a intervenção do Estado. A par do lay-off, outros apoios financeiros foram atribuídos às empresas que permitiram atenuar o impacto da Covid-19.

Para Rui Marques, os apoios do Governo foram "verdadeiramente relevantes". Apesar de "nem todos terem corrido bem", como fez questão de frisar o diretor da ACB, dado que a "sucessão de medidas àquele ritmo não permitia aos empresários acompanharem as informações", o balanço é positivo.

Rui Marques, diretor-geral da ACB comenta os apoios às empresas

Rui Marques, diretor-geral da ACB comenta os apoios às empresas

Na equação do economista entra ainda outro aspeto importante, pois "se os empresários não tivessem vontade de investirem eles próprios, muitas [empresas] não conseguiriam sobreviver". Muitas medidas tinham também "bastante burocracia associada", conclui, o que dificultava o processo.

Tiago Ferreira, da InvestAmarante, reconhece, por sua vez, que as medidas do Governo foram fundamentais. “Sem elas, as empresas teriam entrado em incumprimentos, não conseguiriam recorrer a empréstimos ou fundos comunitários”.

As medidas do Governo foram sendo atualizadas ao longo de toda a crise sanitária. A implementação do lay-off simplificado e a imposição do teletrabalho, quando possível, foram duas das medidas mais impactantes - tanto na economia, como na vida dos trabalhadores portugueses, logo no início da pandemia. Em janeiro de 2021, o Governo apresentou as medidas de apoio à economia e emprego.

A nível local, surgiram ajudas pontuais, como refere, por exemplo João Gomes, quanto à Câmara Municipal de Braga (CMB).

João Gomes refere as ajudas da CMB

João Gomes refere as ajudas da CMB

No Porto, do ponto de vista dos apoios diretos, não houve nenhum pacote de medidas aprovado, porque entendeu-se que não era da responsabilidade do Município. "Para além de ser injusto numa lógica de solidariedade territorial", nota Ricardo Valente.

Por essa razão, o vereador do Turismo da cidade nortenha entende que essa é uma "responsabilidade do Governo da República, que é quem tem a maior parte das receitas fiscais, ligadas à atividade económica." Apesar disso, o Porto prevê reanimar o setor, com destaque para a digitalização da cidade.

Este último ponto também desenvolvido no plano de ação "Reativar o Turismo", a grande aposta do Governo nacional.


Na linha do horizonte


A pandemia veio questionar, a nível mundial, a forma como viajamos. Os diversos players do Turismo apostam na sustentabilidade para uma retoma do setor. Mas esse objetivo apenas será alcançado com medidas internacionais.

As restrições, quanto à circulação de pessoas, durante os diversos confinamentos promoveram não só o turismo local - o rural em particular -, como consciencializaram para a necessidade de viajar de forma mais sustentável.

Filipe Morato Gomes acredita que a tendência veio para ficar

Filipe Morato Gomes acredita que a tendência veio para ficar

Rui Marques é perentório quanto ao turismo rural: "a este nível a pandemia foi assimétrica, dado que em regiões como o Gerês nem se fala de crise".

O diretor geral da ACB identifica ainda uma outra propensão, que terá, "eventualmente, vindo para ficar" - as marcações em cima da hora. A par disso, estão definidas políticas "mais amigas de cancelamentos".

Rui Marques enfatiza a aceleração das políticas mais amigas do consumidor

Rui Marques enfatiza a aceleração das políticas mais amigas do consumidor

A exigência de apresentação de testes PCR negativos à entrada e à saída do país tem sido um verdadeiro travão para a retoma efetiva do turismo. O custo elevado dos testes tem inibido alguns viajantes. Celeste Varum, Adjunta da Secretária de Estado para o Turismo, mantém, contudo, uma opinião diferente na medida em que, para esta investigadora, os testes PCR são a "única possibilidade para se viajar".

Testes PCR: uma possibilidade ou um entrave?

Testes PCR: uma possibilidade ou um entrave?

Mas a recém-decisão da União Europeia (UE) pode alterar o cenário mais negativo. Depois de várias semanas em discussão, os países europeus chegaram a um entendimento quanto à implementação do Certificado Digital COVID.

A Adjunta da Secretária de Estado do Turismo mostra-se segura em relação ao Certificado

A Adjunta da Secretária de Estado do Turismo mostra-se segura em relação ao Certificado

Vulgarmente chamado "passaporte verde", o certificado promete facilitar "a livre circulação dos cidadãos na UE de uma forma segura durante a pandemia de COVID-19”, pode ler-se no site oficial da UE. O documento digital traz ainda esperança para todo um setor - importante motor não só da economia portuguesa como da própria UE. No entanto, as incertezas são mais que muitas.

A linha do horizonte, embora à altura dos olhos, não vislumbra ainda grandes marés. A esperança dos profissionais do setor é que o verão de 2021 restabeleça alguns dos indicadores turísticos a níveis superiores aos do ano passado.

(Texto, fotografias e vídeos: Beatriz Leite e Isabel Moura)